Page 2 - Giz Negro - 2.ª Edição 2024/2025
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abril 2025
EDITORIAL
Depois de toda a parafernália digital inventada e aperfeiçoa-
da ao longo das últimas décadas, aí está a inteligência artificial para nos
servir vinte e quatro sobre vinte e quatro horas.
De facto, quase parece um brunch de domingo em que temos à escolha
o ChatGPT, o Gemini, o Bing Chat e outros que tais. É mais um serviço
indispensável que nos tornará rapidamente dependentes de uma
resposta imediata e, supostamente, completa e rigorosa, sem qualquer
tipo de esforço.
Juntamente com todas as aplicações disponíveis no mercado, as redes
sociais, as diversas plataformas existentes… será uma oportunidade de
tudo controlar e tudo “saber” num tempo recorde.
Fantástico! Uma nova fronteira ultrapassada! Um novo salto na
(r)evolução tecnológica!
Mas… e a interação humana?
Será que vou poder ir tomar um café com o tal crânio artificial? Ou será
possível que esta IA veja e comente, de forma livre e espontânea, um
filme que foi ver comigo? Já nem falo de uma caminhada na Natureza,
respirando o ar puro. Provavelmente, aí vai azucrinar-me os ouvidos com
as características topográficas, geológicas e hidrológicas do terreno,
acrescentando ainda as diferentes espécies de vegetação que nele
poderemos observar. Porém, eu só pretendia respirar a plenos pulmões e
usufruir da beleza da paisagem.
Já que não podemos ignorá-la e podemos aproveitá-la a nosso favor,
também devemos estar em estado de alerta para ela não nos vampirizar.
Não se pode permitir que uma obra de autor seja publicada e logo de
imediato a IA esteja a criar uma idêntica, plagiando a criatividade do
escritor. E esta dinâmica de criação-cópia estende-se a diferentes áreas
do nosso quotidiano.
Lembrem-se sempre que a IA nunca poderá observar o mundo pelos
vossos olhos, é incapaz de ouvir as histórias que vos são contadas ou
confidenciadas para delas retirarem as lições de vida que muito bem
entenderem, não poderá compreender os vossos sonhos aninhados no
recanto mais fundo das vossas almas nem partilhar memórias afetivas.
Em comparação com o ser humano, mesmo com as suas imperfeições, a
IA deveria ser batizada de novo: IAS – Inteligência Artificial Superficial.
Afinal, até rima!
A inteligência humana, com todas as suas idiossincrasias, continuará a
ser a única hipótese de construção de um futuro sustentável para todos
os vindouros. Até lá, ponham a IA a trabalhar e a contribuir apenas para
esse fim.
Maria da Luz Melo
Giz Negro / Jornal Escolar 2

